Qualquer dia, “aniquila-se” também o uso das “simpáticas” metáforas. Será possível olhar para um quiosque que não “ostente” jornais com “dizeres” como “ “Estudantes” trazem “lição” bem “estudada” ”, ou “ “Dragão” sem “fogo” ”, ou mesmo “ “Águia” “caçou” “Leão” na “catedral” ”? Parece-nos que não.
O Jornal Record, ao ter “visto” esta “janela de oportunidade”, contratou o “maior” das metáforas do jornal rival. Internamente, Artur Agostinho sentiu-se “quilhado” e terá feito uma “guerra” mas foi, entretanto, “domado”. Títulos como “Perder Assim n'Doye”, “Águia Voa Baixinho”, “Leões Sem Garra”, “Esquadra Naval Afunda o Móvel”, “Ovos Moles Passam no Exame” ou “Frango de Baía Salta da Capoeira” parecem estar a salvo. Resta-nos saber se o público se manterá “agarrado” a estas tradições ou se “fará agulha” para a escrita “nouvelle vague” que A Bola pretende “edificar”.
A nova linha editorial d’A Bola obrigará os seus jornalistas a escrever como o António Lobo Antunes e aí contarão entre cada golo os avanços do ponteiro dos segundos do grande relógio da sala da redacção
raios partam a redacção que me faz lembrar a primária e a dona alzira a guinchar ameaças de palmatória O seu cabelo loiro recortado pela ardósia negra
e o ponteiro avançará sem piedade O dos minutos como se fossem segundos e os golos do benfica ficarão por relatar pelo menos no papel que na memória de todos ficarão para sempre
indeléveis
a sobreviver ao alzheimer
indeléveis
sólidos na memória como sólidas são as cataratas que me turvam a vista
indeléveis
os golos que o eusébio marcou desmarcado pelo chalana e as defesas do bento que no espanha 82 voava como um gato
sempre fui mais de cães os gatos lembram-me uma tia velha que tive em cascais e o amarelo na cabeça da tia é igual à dona alzira a guinchar ameaças de palmatória
e os golos de cabeça que o simão marcava a passe do coluna
e aí todos ficaremos mais cultos mas continuaremos a não saber nada de bola.